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Cultivando coragem - Um exemplo de aplicação da Pergunta Incisiva na Sessão da Parceria de Pensamento ou em Coaching.

Artigo publicado originalmente na revista Coaching Brasil, escrito por Trisha Lord (consultora, facilitadora e membra do Global Faculty do Thinking Environment)

*Este texto é uma continuação da nossa série de artigos sobre as Perguntas Incisivas, se você não viu ainda, leia o texto anterior onde falamos sobre o poder das Perguntas Incisivas e como aplicá-las a fim de sustentar um Thinking Environment.

John é um homem encantador. Ele é inteligente, engraçado e corajoso. Mais uma vez, ele se senta à minha frente, explorando o que pode estar assumindo que está mantendo-o preso em um ciclo repetitivo de baixa autoestima. Estamos usando a abordagem de Nancy Kline para o coaching, The Thinking Session (Sessão de Pensamento), que tem como principal objetivo proporcionar um ambiente no qual o pensamento independente do cliente é continuamente liberado e transformado. Esta abordagem requer uma enorme disciplina por parte do coach. Como Coach do Time to Think (empresa fundada por Nancy para qualificar e credenciar profissionais no Thinking Environment), sabemos que o especialista na vida do cliente é o próprio cliente. Também sabemos que o maior presente que temos para oferecer aos nossos clientes é a estrutura na qual eles possam pensar bem por si mesmos, com coragem, disciplina, imaginação e elegância.

Conheço e trabalho com o John há dois anos. Apesar de ser, ele próprio, um coach talentoso e um homem de grande determinação, continua a cair em velhos padrões familiares de pensamento que limitam o que ele acredita ser possível para si mesmo.

Tenho visto esta dinâmica se repetir incontavelmente no meu trabalho ao longo dos últimos 31 anos como coach, treinadora e facilitadora. Quando estamos na beira do abismo encarando o desconhecido, sendo chamados pela inexorável vontade de nossa alma para uma jornada rumo à plenitude e completude, assumindo a posição de quem realmente somos e da vida que queremos viver, há aquele momento existencial de coragem no qual podemos falar por nós ou contra nós - falar pelo que é possível para nossos futuros ou pelo que é inevitavelmente predestinado a nos decepcionar se nos basearmos em nossas falhas do passado.

Nesse momento, não há nada mais a que possamos recorrer. É o significado da expressão “fé cega” - temos que escolher com quais peças jogar, para sair do jogo ou recuar. Na sessão, John passou algum tempo explorando sua relação com os pressupostos que tem sobre si mesmo. Ele pode, no nível cognitivo, estar disposto a parar de acreditar nesses pressupostos, mas ainda assim, eles continuam a ruir sua autoestima.

Eu pergunto a ele, como já fiz várias vezes desde que começamos nossa sessão: “O que mais você pensa, ou sente ou gostaria de dizer?” Depois de 30 minutos explorando seu pensamento no máximo que podia, ele responde: “Nada mais”.

Mas ainda sobrou algum tempo dentro do que combinamos para a sessão. A pergunta que me impulsiona como coach é: “Onde mais ele pode chegar por conta própria com o seu pensamento? E aonde mais ele poderia chegar se soubesse que conseguiria continuar e que eu continuaria interessada em saber aonde o seu pensamento o levaria.

Então, pergunto ao John o que mais ele busca atingir no tempo restante da sessão. Ele diz: “Quero viver a Escolha Filosófica Positiva.” Este é o termo que damos à visão sobre a natureza humana que escolhemos no Thinking Environment. Isso significa para ele querer viver como se fosse digno de colher bons resultados, como uma pessoa que tem muitas escolhas, capaz de pensar por si mesmo sobre qualquer coisa e no melhor interesse real de si mesmo e de todos que o rodeiam. Este era o seu objetivo.

O que está bloqueando este resultado é um falso pressuposto limitador, vivido como se fosse verdadeiro. Então, continuamos a caça pelo pressuposto limitador falso que o está impedindo de viver a Escolha Filosófica Positiva.

“O que você está supondo que o está impedindo?” Eu pergunto, repetidamente, até que John tenha deixado emergir todos os pressupostos limitadores que ele consiga encontrar em sua mente e que estão no meio do caminho, ou seja, são um obstáculo entre ele e sua capacidade de viver seu objetivo. Então eu o convido a escolher aquele pressuposto que ele acredita ser o mais impeditivo, a maior pedra no caminho o pressuposto limitador chave. “É mais seguro não vive-lo”, diz John. “Você acha que é verdade que é mais seguro não vive-lo?” Eu pergunto isso a ele porque sabemos que o problema está nos pressupostos limitadores falsos que temos - eles são a cola que nos mantém presos em padrões repetitivos que parecem não ser da nossa escolha. Portanto, precisamos descobrir se esse pressuposto limitador chave que ele escolheu olhar é verdadeiro ou não. “Bem, sim, na verdade, eu acho que é verdade”, diz John. “Quais são as suas razões para pensar assim?” Eu pergunto.

John é capaz de produzir razões para justificar o seu pensamento que, em seu contexto atual, poderiam fazer parecer que o pressuposto é verdadeiro. Mas o pressuposto falso ainda não foi encontrado. Então eu pergunto: “É verdade, ou pelo menos possivelmente verdadeiro, que é mais seguro não vive-lo – mas o que você está supondo que faz com que esse pressuposto o impeça de viver a Escolha Filosófica Positiva?”

“É uma pergunta muito boa”, diz John e pausa para refletir. Mergulhada nos Dez Componentes do Thinking Environment, sou capaz de permanecer fascinada com a jornada interior que sua mente está fazendo, oferecendo minha atenção aos pensamentos que não posso escutar, mas que posso ver em seus olhos. John ficou olhando pela janela por algum tempo. Então ele retorna seus olhos para mim, encorajado ao descobrir que estou lá com ele, mantendo-me interessada em saber para onde ele direcionou agora seu pensamento. “Bem, estou assumindo que mais seguro é melhor”, diz ele. Eu pergunto novamente: “Você acha que é verdade que mais seguro é melhor?”, e desta vez não há hesitação - “Não”, ele diz, “isso não é verdade - eu não quero mais o seguro, já tive o suficiente do seguro, mais seguro é chato”. Só para ter certeza, eu pergunto a ele se existem outras razões que ele acha serem verdadeiras, e agora, assim que ele começa a conquistar sua liberdade, os pensamentos de John começam a brilhar e voar - “Bem, para começar, é uma ilusão querer evitar o risco que seria me apropriar da minha vida e defender o que eu realmente quero e espero ser possível para mim e que isso vai realmente resultar em segurança – o que quero dizer é que não é verdade!”

Em seguida, pergunto ao John: “Se não é verdade que mais seguro é melhor, então quais são as suas palavras para o que é verdadeiro e libertador?” Este é o lugar onde a Sessão de Pensamento convida o pensador para romper um limite - esse limite existencial de escolha. À medida que John se liberta do pressuposto limitador que anteriormente lhe cortou as asas, ele se aprofunda e procura uma maneira de expressar o que ele pode realmente acreditar por si mesmo - não um oposto superficial, mas um pensamento novo, virgem, que lhe dará a coragem de voar. Ele experimenta um ou dois pensamentos, mas por John ser quem é, e ele é muito meticuloso na sua necessidade de encontrar exatamente as palavras certas, novamente há um silêncio. Ele olha para baixo, franze a testa, é quase como se estivesse parindo alguma coisa! Então ele olha para cima e diz: “Que se lixe, não me interessa se é um clichê, está certo neste momento - o que é real e verdadeiro para mim é que a fortuna favorece os corajosos!” E assim, posso agora fazer a John a sua pergunta incisiva, feita a partir das suas próprias palavras, do seu próprio pensamento: “Se você soubesse que a fortuna favorece os corajosos, como viveria a Escolha Filosófica Positiva?”.

Desde esta sessão, John mudou sua vida completamente. Mudou entre continentes, casou-se com a mulher de seus sonhos e trabalha como coach executivo de alto nível.

Artigo publicado originalmente na Revista Coaching Brasil, Ed. 69, fevereiro, 2019.

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