*Este texto é uma continuação da nossa série de artigos sobre as Perguntas Incisivas. Se você não leu ainda, confira o texto anterior onde falamos sobre o que são as Perguntas Incisivas e como construí-las.
Em seus diálogos, encontros e reuniões, você considera possível pensar por si mesmo com fluidez e liberdade para se expressar de forma autêntica, sem medo do que outras pessoas vão pensar sobre o que tem a dizer?
Se você sente dúvidas sobre isso, considere-se dentro da "normalidade". De fato, essa qualidade de pensamento e escuta se mostra rara na grande parte de nossas relações. Muitas vezes nos vemos em situações em que, ou querem pensar por nós nos dizendo o que devemos ou não pensar, ou o que devemos ou não fazer. E é comum nos comportarmos da mesma forma com os outros.
O Thinking Environment é um conjunto de comportamentos que fazem com que as pessoas se sintam seguras o suficiente para se expressar da forma mais autêntica possível, sem precisar se conter por medo de julgamento ou na defesa das interrupções.
Um grande catalisador para que isso aconteça é a atenção colocada sobre o Pensador (uma pessoa que está nessa posição de pensar por si mesma). Quando escutamos o Pensador com atenção generativa, interessada e genuína, catalisamos o processo de pensar. Nossas descobertas indicam que o Pensador começa a construir pensamentos novos que, sem a presença dessa atenção, não seria capaz de gerar. O Pensador rompe com barreiras que antes passavam despercebidas, liberando seu pensamento para soluções que pareciam inalcançáveis.
Um exemplo dessas barreiras é o que nos impede de mostrar vulnerabilidade e que acaba dificultando a manifestação de quem realmente somos e de como pensamos. Mas isso gera estragos irreparáveis no longo prazo e acontece somente até o ponto em que conseguimos reconhecer que nossas vulnerabilidades andam de mãos dadas com nossas fortalezas. Só precisamos do ambiente que permita que mostremos quem realmente somos.
Nossos verdadeiros objetivos de vida só se revelam a partir da compreensão de quem realmente somos e do que queremos. E podemos ir longe quando passamos a entender nossas raízes e fundamentos para tomar ou não um caminho de decisão e ação.
Mas quem tem coragem de explorar os caminhos para encontrar a raiz dos seus problemas mais desafiadores?
Entendemos que nem todos estão preparados para percorrer esse caminho e que existem diversos processos e passos até chegarmos a esse ponto. E o limite do que podemos extrair de um sistema que traz mais segurança para pensar por nós mesmos é, justamente, o limite do que estamos dispostos ou não a enfrentar.
Só nós podemos dizer até onde podemos ir, ou queremos ir com nosso pensamento. Ninguém deveria nos forçar a pensar de uma determinada forma. O que podemos é ouvir genuinamente uns aos outros, e quem sabe, essa escuta possa já ser o suficiente para que possamos criar coragem para conseguir ir além daquilo que está na "superfície" do pensar.
O potencial das Perguntas Incisivas
Segundo Nancy Kline, no seu artigo “Silent, Incisive Questions & Client Stories” (Silêncio, Perguntas Incisivas & histórias de clientes), mesmo sem perceber, é comum termos pensamento do tipo:
- Minhas histórias são entediantes.
- Minhas histórias/percepções vão diminuir o respeito do ouvinte por mim.
- Ao revelar minhas histórias/percepções, podem emergir muitos sentimentos, posso até chorar, e isso é um sinal de fraqueza.
- Ninguém tem histórias/percepções tão perturbadoras quanto as minhas.
- Minhas experiências/percepções não importam aqui.
É, justamente, aqui que podemos entrar com as Perguntas Incisivas e a Atenção Generativa.
Quando vivenciamos momentos ou sentimentos como esses exemplificados acima, em que partimos de uma suposição que diminui a nossa capacidade de se expressar, geralmente, estas suposições são falsas, na medida em que não encontram embasamento de fatos da realidade.
Quem pode dizer que somos menos ou que podemos menos sobre o que queremos fazer ou temos o potencial de ser? Só nós podemos, de fato, dizer isso. Então, para transformar esses pressupostos limitantes falsos em pressupostos libertadores, podemos resignificar essas frases com Perguntas Incisivas, como por exemplo:
- Se você soubesse que as suas histórias revelam o seu ser singular e são essenciais para criarmos o plano perfeito e o legado que você vai deixar, que histórias me contaria sobre você?
- Se você soubesse que as suas histórias, todas elas, são fascinantes e interessantes para mim, como se sentiria ao me contar?
- Se você soubesse que vou te respeitar mais por causa das histórias que vai me contar sobre quem você é, que história você sabe que são as que mais precisaria me contar?
- Se você soubesse que eu sei que as histórias são cheias de sentimentos e que sentimentos são cheios de inteligência, que histórias você não evitaria?
- Se você soubesse que há histórias muito mais alarmantes do que as suas, que história difícil me contaria que nos ajudaria a criar o seu plano e legado?
Esta é a maneira a partir da qual as Perguntas Incisivas conseguem transformar um ambiente de bloqueios emocionais em um ambiente apreciativo, muito mais propício ao melhor pensamento e a liberação da nossa mente para pensar com mais qualidade.
Você gostaria de vivenciar isso na prática e perceber por si mesmo como esses movimentos acontecem dentro de sua mente? E como tudo isso ajuda a criar ambientes de alta segurança psicológica para as pessoas ao seu redor?
Se a resposta é sim, deixamos aqui o convite para você se aprofundar e vivenciar mais de um Thinking Environment.
[…] podem se desenvolver mais naturalmente. Sobre isso iremos falar mais no nosso próximo artigo: O poder das Perguntas Incisivas e como aplicá-las - Munzner, que forma uma sequência de 4 textos sobre como conectamos as Perguntas […]